quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A fome é o desejo reincidente...

Há tempos adio a leitura do livro "Clube dos Anjos", de Luís Fernando Veríssimo, que pertence à coleção "Plenos Pecados", da Editora Objetiva. Com o slogan "um convite à reflexão e também ao prazer", a coleção Plenos Pecados foi lançada no ano de 1998, apresentando sete obras de sete autores consagrados, com a proposta de analisar os pecados capitais que fascinam e aprisionam os homens ao longo dos séculos, sob um ponto de vista libertador e contemporâneo. 

E, nesses acasos da vida, enquanto passeava pela Livraria Cultura, me deparei com o volume escrito pelo Luís Fernando Veríssimo, narrando o delicioso pecado da Gula!

Foto:  Divulgação

A contracapa já seduz: 

"Não é todo dia que se quer ver um pastoso Van Gogh ou ouvir uma crocante fuga de Bach ou amar uma suculenta mulher, mas todos os dias se quer comer. A fome é o único desejo reincidente, pois a visão acaba, a audição acaba, o sexo acaba, o poder acaba - mas a fome continua."

Como resistir à tentação de começar a ler ali mesmo, na livraria... Não, não pude resistir e comprei!

O livro conta a história da Confraria do Picadinho, que se reúne uma vez ao mês para celebrar a arte de comer bem. Porém, no dia seguinte ao jantar feito por um misterioso chef, um dos confrades morre por circunstâncias misteriosas, justamente ele que, por tanto ter gostado do prato feito pelo cozinheiro (Boeuf Bourguignon), quis comer a última porção. A dúvida paira no ar entre os presentes: teria o confrade Abel morrido envenenado?

A morte do amigo não é motivo para pararem com os encontros, e no mês seguinte, mais um jantar promovido por Lucídio e mais uma morte. No outro mês, o episódio se repete. Diante de tantas coincidências entre jantares e mortes, não seria o mais aceitável que os encontros fossem cessados? Seria, mas não para o grupo que, de certa forma sente um prazer ainda maior em saborear os pratos apimentados com um iminente medo de morrer. A comida, de algum modo, ficaria mais saborosa por causa da incerteza mórbida da última refeição: será que amanhã eu vou amanhecer vivo?

Estou me deliciando com a obra, desejando saborear a última página.

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