Cheguei na sala da palestra de Manoel Beato.
É tão bom escutá-lo falar... Tão calmo, tranquilo, apreciador dos detalhes, culto... É realmente encantador vê-lo degustar um vinho e expor suas impressões... Aprendi tanto!!
Conforme nos disse Manoel Beato, o sul da França foi uma região que ficou esquecida por um bom tempo, mas que, recentemente, vem sendo valorizada como se deve. Nessa região, que compreende a área do Vale do Rhône até Languedoc-Roussillon, as uvas que mais se destacam, por encontrarem um bom desenvolvimento são a Syrah, a Mouvèdre, a Cinsault, a Grenache e a Carignan.
Os vinhos que degustamos (6 no total) foram todos escolhidos pelo próprio Beato em suas andanças pela França. E todos eles são importados pela Enoteca Fasano.
Começamos com o Ancestrale 2007, da Domaine Bertrand Bergé. Localizado no coração da denominação Fitou, no vilarejo de Paziols, a família Bertrand Bergé está na sua sexta geração de vignerons.
Com um vermelho bem intenso e de reflexos negros, esse vinho apresentou aromas de vermute, assim como um toque mineral (um pouquinho oxidado). Na boca, frutas bem maduras e especiarias, médio corpo e média persistência.
Seguimos para o Les Collines 2006, da Domaine Ollier Taillefer, que está localizado no vilarejo de Fos, nos arredores da denominação de Faugerés.
Com aromas intensos de terra molhada, Manoel Beato destacou que esse vinho harmoniza muito bem com cogumelos (vou fazer o teste!). Mas confesso que este rótulo mostrou-se muito mais aromático do que saboroso... Achei que na boca não surpreendeu, média persistência, de corpo meio mole. Talvez, para ficar mais interessante ele precisasse estar um pouco mais resfriado...
Partimos para o La Bastide Saint Dominique 2008. Que espetáculo! A propriedade está localizada no vilarejo de Courthézon e a idade média das vinhas é entre 20 e 50 anos. Este rótulo apresentou aromas metálicos e, segundo Beato, aromas de caça, de sangue, além de um toque herbáceo. Na boca, bom corpo, excelente persistência e taninos elegantes.
Em seguida fomos para o Les Terres Blanches 2008, da Domaine Borie Vitàrele. Os vinhedos dessa vinícola seguem o cultivo biológico, com certificação, e recebem compostos e preparados biodinâmicos, além de tratamentos com chás de ervas! Eu fico imaginando as plantações "tomando" chá! Adoro!!
Vinho bastante interessante, com aromas bem frescos e taninos bem marcantes. Os aromas não se repetem na boca... Eu gostei dele justamente por ser diferente! Nunca havia provado nada assim! Se a intenção é surpreender, esse é o vinho!
Partimos então para o Le C de Camplong, 2005. O meu preferido! Esse vilarejo, onde vivem apenas 270 habitantes (vou me mudar para lá!), está localizado aos pés da montanha D'Alaric. As uvas são colhidas à mão e passam por um rigoroso processo de seleção, resultando assim, em vinhos de alta qualidade. Este rótulo me ganhou: com coloração quase negra, esse vinho com aromas de terra e tostado mostrou na boca muita potência, mas sem deixar de ser elegante. Notas de chocolate amargo e café também se destacavam. Segundo Beato é um vinho com bom potencial de guarda, muito embora esteja muito bom para beber!
E, como o melhor sempre fica para o final: Um Passito di Pantelleria!
Você deve estar se perguntando: "Mas a palestra não era sobre vinhos franceses?" Sim, leitor, mas, nem o Manoel Beato soube explicar como essa belíssima garrafa apareceu por lá... Ele imagina que tenha sido um agradinho da Enoteca para todos nós que compartilhávamos aquela tarde juntos... E que agrado, não é mesmo?
Esse vinho de sobremesa, elaborado com a uva Moscatel, era tão bom, mas tão bom, que foi impossível deixar uma gotinha na taça!
Com aquela coloração de caramelo, ou como alguns preferem, chá concentrado, apresentou aromas de figo e de doce de sidra. Na boca, um delicioso mel de laranja, doce sem ser enjoativo! Divino... Confesso que fiquei me imaginando passeando pela ilha de Pantelleria com uma taça desse vinho nas mãos!
Fim da palestra e, como não poderia deixar de ser, tive meu momento fã e, depois de conversar com Manoel Beato, tiramos uma foto.
Saí da sala com a sensação de que, por mais que estude a vida inteira, nunca vou aprender tudo!